{"id":24308,"date":"2012-11-27T07:25:38","date_gmt":"2012-11-27T10:25:38","guid":{"rendered":"http:\/\/canindesoares.com\/?p=24308"},"modified":"2014-03-15T19:44:39","modified_gmt":"2014-03-15T22:44:39","slug":"viver-para-pintar","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/canindesoares.com\/viver-para-pintar","title":{"rendered":"Viver para pintar"},"content":{"rendered":"

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A trajet\u00f3ria de Demetrius Montenegro, artista autodidata que fez do litoral um ref\u00fagio especial para pintar o Agreste, suas gentes, seus h\u00e1bitos e suas cores<\/em><\/p>\n


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Texto: Paulo Ara\u00fajo<\/em><\/p>\n

Foto: Gabriel Dias<\/em><\/p>\n

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A biografia de Demetrius Montenegro pode muito bem rivalizar com sua pr\u00f3pia cria\u00e7\u00e3o pict\u00f3rica. Ela come\u00e7a com uma hist\u00f3ria digna da pena de Gabriel Garc\u00eda Marquez e do realismo m\u00e1gico latino-americano na cidade potiguar de Nova Cruz, h\u00e1 33 anos. At\u00e9 hoje, comenta-se por l\u00e1 que quando a m\u00e3e de Demetrius estava gr\u00e1vida, com um barrig\u00e3o pesado de seis meses, sentiu uma for\u00e7a estranha acompanhada de uma vontade inexplic\u00e1vel de pintar, mesmo sem nunca t\u00ea-lo feito. O impulso incontrol\u00e1vel f\u00ea-la juntar pinc\u00e9is e tintas e colorir todo o enxoval do futuro pintor em menos de um m\u00eas.<\/p>\n

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Sua inf\u00e2ncia foi marcada pelo \u201cexotismo\u201d de morar no Agestre potiguar \u2013 regi\u00e3o que nem \u00e9 o Sert\u00e3o, com suas paisagem \u00e1ridas e quentes, nem o Litoral, zona apraz\u00edvel onde est\u00e1 a fartura da \u00e1gua do mar. O Agreste \u00e9 a pr\u00f3pria alma de Demetrius: insond\u00e1vel. Vida ao ar livre, brincadeiras junto \u00e0 natureza, banhos de rio, contempla\u00e7\u00e3o da natureza: este \u00e9 o mundo primitivo que ele tanto ama e de onde tira constantemente inspira\u00e7\u00e3o para desenhar e pintar, mesmo estando h\u00e1 seis anos \u00e0 beira do mar de Pipa.<\/p>\n

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O contato com as obras de pintores cl\u00e1ssicos que tamb\u00e9m viram e retrataram com pinc\u00e9is um mundo repleto de elementos da natureza foi fundamental para defini\u00e7\u00e3o do estilo de Demetrius. Da galeria de \u201cafetos\u201d pessoais fazem parte o italiano Giovanni da Fiesoli \u2013 mais conhecido como Fra Ang\u00e9lico, que entre o final do G\u00f3tico Tardio e come\u00e7o do Renascimento nos legou obras sublimes como \u201cA Anuncia\u00e7\u00e3o\u201d \u2013, o holand\u00eas Vicent Van Gogh e seus campos de girass\u00f3is ensolarados e, \u00eddolo dos \u00eddolos, o franc\u00eas Paul Gaugin, este \u00faltimo tamb\u00e9m perseguidor da luz pict\u00f3rica que recobria os habitantes dos mares do sul na Polin\u00e9sia Francesa.<\/p>\n

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\u00c9 curioso notar, tamb\u00e9m, que Demetrius sacrificou fam\u00edlia e dinheiro em busca dos seus objetivos pict\u00f3ricos,como fizeram muitos dos seus mestres ao longo da hist\u00f3ria da arte. Desde cedo, o \u201cpintor de fim de semana\u201d ouviu palavras de desist\u00edmulo, mas fez delas o leitmotiv<\/em> para, como gosta de refor\u00e7ar, \u201cviver para pintar\u201d. Filho de professores, tornou-se policial militar \u2013 um universo onde, imagina-se, n\u00e3o h\u00e1 lugar para almas sens\u00edveis \u2013 e hoje concilia a atividade com tintas, telas e solventes neste charmoso ateli\u00ea, n\u00e3o por acaso instalado na Rua do C\u00e9u, em Pipa.<\/p>\n

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Ao longo desse curto per\u00edodo \u201coficial de carreira, Demetrius j\u00e1 produziu mais de 120 quadros \u2013 a maioria adquirido por estrangeiros que frequentam a praia. Ele calcula que suas telas, retratando o agreste potiguar, sua gente e suas cores j\u00e1 enfeitam paredes em aproximadamente 10 pa\u00edses na Europa. \u201cFilhos eternos\u201d, lembra. Ao jogarmos uma lupa sobre essa sens\u00edvel produ\u00e7\u00e3o, notaremos elementos recorrentes na maioria das telas. O mais frequentes s\u00e3o os vasos (que em alguns momentos aparecem representado a magia do Oriente, como na tela Das Ar\u00e1bias,<\/em> e noutros s\u00e3o puro mist\u00e9rio, como n\u2019O Tocador de P\u00edfanos<\/em>). A inspira\u00e7\u00e3o? Um velho pote de barro utilizado por sua v\u00f3 para guardar \u00e1gua pot\u00e1vel em Nova Cruz e onde o menino sempre via, encantado, pequenas r\u00e3s se refugirarem do calor na parte mais escura do utens\u00edlio ind\u00edgena.<\/p>\n

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Movido pela cor, que s\u00e3o v\u00e1rias na palheta de Demetrius, as telas explodem principalmente em azul, amarelo e vermelho. O azul do mar de Pipa serve apenas de inspira\u00e7\u00e3o para, tal qual o aux\u00edlio luxuso de um pandeiro num samba, eleva aos c\u00e9us um \u00cdcaro<\/em> balofo que tentar voar utilizando um guarda-chuva. Como, de novo, o menino Demetrius tentou fazer um dia em Nova Cruz. O amarelo que explode num conjunto de girass\u00f3is serve de cama flutante para um casal de amantes. E o vermelho, uma das marcas registradas do pintor, marca de carmim os cajus, talvez a fruta mais suculenta e er\u00f3tica do Agreste.<\/p>\n

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Mas nada pode ser mais encantador do que as telas que retratam as festas no interior, os pequenos cabar\u00e9s, as mulheres l\u00e2nguidas e os malandros sestreiros, os vaqueiros, os retirantes que fogem da seca rumo para n\u00e3o se sabe onde, o universo colorido e alegre do circo, os jogadores de peladas que espreitam mulheres peladas por cima do muro e o mundo ing\u00eanuo das crian\u00e7as \u2013 talvez o mesmo mundo do pr\u00f3prio pintor que agora se revela aqui para voc\u00ea em cor, em verso, em vida, em for\u00e7a, em luz.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

A trajet\u00f3ria de Demetrius Montenegro, artista autodidata que fez do litoral um ref\u00fagio especial para pintar o Agreste, suas gentes, seus h\u00e1bitos e suas cores Texto: Paulo Ara\u00fajo Foto: Gabriel Dias   A biografia de Demetrius Montenegro pode muito bem rivalizar com sua pr\u00f3pia cria\u00e7\u00e3o pict\u00f3rica. Ela come\u00e7a com uma hist\u00f3ria digna da pena de […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_acf_changed":false,"footnotes":""},"categories":[284],"tags":[],"acf":[],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/canindesoares.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/24308"}],"collection":[{"href":"https:\/\/canindesoares.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/canindesoares.com\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/canindesoares.com\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/canindesoares.com\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=24308"}],"version-history":[{"count":1,"href":"https:\/\/canindesoares.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/24308\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":28471,"href":"https:\/\/canindesoares.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/24308\/revisions\/28471"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/canindesoares.com\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=24308"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/canindesoares.com\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=24308"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/canindesoares.com\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=24308"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}