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Entrevista – Lula Holanda presidente da Associação dos Corredores em Recife
Entrevista com o ultramaratonista LULA HOLANDA, fundador e presidente da Associação dos Corredores do Parque da Jaqueira – ACORJA – Recife. Ele surpreendentemente já correu mais de 40.000 km, isso equivale a uma volta ao nosso planeta. LULA, fala sobre sua participação na Maratona dos Baobás, que acontece dia 03 de dezembro de 2017.
- LULA HOLANDA, conte um pouco sobre você.
Sou bancário, atualmente estou com 63 anos, fiz no dia 16 de abril e a minha vida toda foi focada profissionalmente em banco. Sou graduado em Ciências Contábeis, abriu a porta para entrar na empresa, onde trabalhei por 25 anos, que galguei como gerente, gerente de produção, gerente geral e por fim passei seis anos como superintendente.
- Como foi que começou neste esporte de corrida?
Aos 50 anos de idade fui convidado para sair da empresa e foi daí que começou tudo. Mexeu um pouco com a minha mente, porque você como superintendente tem um salário legal, a sua família fica realmente baseada e rastreada naquilo que você ganha, evidentemente, e eu tinha um bom salário. Quatro filhos não são fácil, despesas, tinha o meu carro e o meu trabalho que oferecia condições realmente muito boas. Quando eu fui convidado a sair do banco mexeu muito comigo, passei alguns meses com uma depressão que tomou conta de mim e a família sofreu muito com isso. Graças a Deus a minha esposa Tania Holanda, foi uma guerreira, mostrando que não era o fim de tudo, mas não foi fácil. Todo dia de manhã colocava um paletó, como se fosse trabalhar e não tinha para onde ir, ia ao shopping, visitar um amigo, realmente um momento muito difícil de minha vida, foi quando pensei em correr, surgiu uma oportunidade no Parque da Jaqueira, porque fica perto daqui da nossa casa, comecei a dar umas caminhadas e foi me motivando. Através da caminhada encontrei amigos. Aqui no Parque da Jaqueira é muito arborizada, tem uma pista de 980m, comecei a caminhar e depois trotar e lá fiz algumas amizades e me atrevi a correr na rua com um grupo e consegui. Saí e consegui voltar trotando com eles, daí começou tudo. Lembro como hoje minha primeira corrida que foi a corrida das Pontes em julho de 2004, que foi a 2ª Corrida das Pontes de Recife, concluí em 1h e 01m e quando fui para essa prova minha esposa perguntou você é louco rapaz de correr 10 km, não sabia ela o que iria acontecer com o Lula, se tornar um ultramaratonista. Foi assim que a corrida aconteceu na minha vida, em consequência de um problema no trabalho surgiu a depressão e essa foi a minha saída.
- Como é a relação e o envolvimento da sua família com o esporte?
Com relação a minha família eu tenho uma esposa que é muito maleável e sabe que a corrida me faz bem. E hoje, aos 63 anos, aposentado, se você não tem uma atividade, fica muito ocioso e só pensa em bobagem. Eu não bebo, o meu único esporte é o pedestrianismo, não gosto de futebol, não jogo bola nenhuma, bola pra mim é quadrada. Então a corrida foi a minha saída, que o Senhor preparou pra mim, para completar a minha vida e é justamente na corrida que eu busco uma qualidade de vida e o mais importante para mim na corrida é fazer amizades, criar relacionamentos, hoje eu tenho um celeiro de amigos. A ACORJA surgiu nos meados de fevereiro de 2005. Antes de eu completar um ano de corrida ela surgiu, porque existia um grupinho que corria comigo, nesta época eu estava com minha empresa, era empresário, montei uma empresa e tinha condições de dar a muita gente aquilo que conquistei, que foi sair de uma depressão através da corrida, então comecei a motivar as pessoas a correrem. Eu tinha uma Kombi na empresa e essa Kombi era engraçado, eu a colocava dia de sábado e domingo saindo da Jaqueira até o Horto Dois Irmãos que dava uma faixa de 10 km e também ia para o Marco Zero com a Kombi e essa Kombi tinha o serviço de auto-falante e a gente colocava aquelas músicas bem pauleiras de academia e a turma ia correndo e quando o corredor quebrava voltava dentro da Kombi, então foi interessante para a família me preencher, como me preenche até hoje.
Família ACORJA, ela está me completando, eu plantei há 12 anos e hoje aposentado o meu foco é ACORJA. Hoje tem duzentas e poucas pessoas que colocam o “manto azul” que correm regularmente com a gente, sem contar os amigos que usam as camisas, não só aqui em Pernambuco, mas em todos os estados brasileiros, inclusive fora do nosso país, na Europa, nos EUA, no oriente e no ocidente. ACORJA está nos quatro cantos do mundo. A família acorjeana me dar muita alegria, eu me preocupo muito, hoje praticamente o meu tempo é para trabalhar, para criar situações, treinos, corridas, motivar a família acorjeana e hoje a gente tem os treinos regulares da ACORJA: terças e quintas às 5h e 19:30h e no sábado é dia de longão, onde corremos 25 km, 30 km ou 35 km. Domingo temos o “regenerativo”, em média 13 km. O nosso grupo busca preparar o atleta para fazer maratonas e ultramaratonas. Nós acorjeanos somos conhecidos como “fábrica de maratonistas”, é tanto que temos uma maratona anual que é a Maratona das Praias, nós fazemos essa maratona realmente para oferecer ao atleta acorjeano o prazer de todos tornarem-se maratonista. Essa maratona ocorre em março. Para você ter uma ideia, de uma brincadeira, um aniversário, que surgiu esse percurso, nós colocamos quase 290 atletas fazendo a Maratona das Praias. A maratona sai da Jaqueira e vai até a Praia da Enseada dos Corais, percorrendo o litoral sul do nosso Pernambuco: Jaqueira, Marco Zero, Praia do Pina, Boa Viagem, Piedade, Candeias, Barra de Jangada, Ilha do Amor, Praia do Paiva, Praia de Itapuama, Pedra do Xereu e finalmente Enseada dos Corais. São dez praias que nós corremos totalizando 42 km. O convite está aberto para vocês potiguares.
- Onde você mora e quantas maratonas você já participou?
Moro em Recife. Com relação às maratonas que eu já fiz durante esses doze anos, a primeira foi em 2005, comecei a correr em 2004 e no ano seguinte fiz a minha primeira maratona que foi aqui mesmo em Recife. Sofri muito, quase desistia, terminei a maratona em 4h e 48min, foi sofrida demais, parei nos 32 km, aquele fato da barreira dos 30km é pura realidade e quando eu cheguei nos 32 km eu queria desistir de tudo, mas lembro como hoje que eu tenho um amigo Paulo Piranha, que corre comigo até hoje e nos 32km, onde meu sogro estava dando apoio, o Anderson estava comigo, minha filha Amanda também, isso há praticamente 12 anos atrás. O Anderson tinha 15 anos, Amanda tinha 14 anos e já estavam me dando apoio e meu sogro também, eu percebi justamente Paulo Picanha que vinha, e ele é sempre gordinho, o cabra vinha se arrastando, passou por mim, pelo amor de Deus, um corpo desse fazer uma maratona e eu não fazer, onde eu tinha treinado, pedia ao meu Deus, Deus me exalte e fui em busca dos 42km, faltava ainda mais 10 km. Foi aí a primeira maratona do Lula e graças a Deus fiz 78 maratonas e ultramaratonas. Fiz a Maratona de São Paulo dia 09 de abril, que foi a 79º e a 80º em Boston. Consegui o índice ano passado na maratona de Porto Alegre, porque para a maratona de Boston você precisa de índice para participar da maratona e é por faixa etária, o atleta tem que fazer a maratona entre 3h e 55min entre 60 e 64 anos e eu consegui o tempo de 3h e 49min, fiz minha inscrição e fui qualificado e participei com alguns amigos da maratona no dia 17 de abril. No retorno de Boston, dia 21 de abril, fomos direto para Aracaju participar da 1ª maratona de Sergipe, onde foi a 81ª maratona.
A missão cumprida da 87° Maratona foi A Muralha com um tempo de 04:14h, realizada na cidade de Penedo no Estado do Rio de Janeiro, na Serra da Mantiqueira. Um lindo visual da natureza, mas é uma pedreira de dificuldade, o nome da mesma foi bem nomeada. Em outubro, a minha missão cumprida, foi a 93ª Maratona/Ultras, na cidade de Salvador e a 18ª Missão de 2017. Deus vai permitir, estarei agora em Natal, no dia 03 de dezembro, para participar da minha 96ª maratona.
Então foram várias maratonas em todo Brasil, fiz a maratona de Porto Alegre 5 vezes, a de São Paulo 4 vezes, Foz do Iguaçu, Fortaleza, Salvador, percorri o Brasil todo e o Senhor me permitiu que eu fizesse algumas maratonas e ultramaratonas fora do país. Teve uma ultramaratona que eu fiz fora do país que foi a Comrades que é a tão sonhada para todos os corredores de ultramaratonas. A Comrades se realiza na África do Sul e são 89 km. Eu fiz a Comrades em 2010 e fechei a ultra em 9h, 31min e 17seg e essa corrida foi muito marcante porque foram cinco Pernambucanos e por coincidência finalizaram três com o mesmo tempo na linha de chegada, no tapete vermelho de mãos dadas, com a bandeira do Brasil, pisamos no tapete na mesma hora, tanto que os três tem o mesmo tempo. Segundo falam esse é um excelente tempo para essa ultramaratona. Permita-me falar o nome dos meus amigos que chegaram junto comigo: Júlio Cordeiro e o Cel Bagette, que na época era Capitão Bagette. Essa ultramaratona é muito especial, eu confesso para você o cara que gosta de correr longas distâncias coloque essa ultramaratona na sua agenda porque você vai ficar encantado, a Comrades que acontece na África do Sul. Através da Comrades que surgiu a nossa Ultramaratona dos 100 km do Frio, que nós realizamos aqui todo ano e este ano de 2017, foi a sexta edição, ela é realizada de Caruaru a Garanhuns, num ano e no ano seguinte desce de Garanhuns para Caruaru, este ano realizamos no dia 5 de agosto e eu quero fazer um convite especial para motivar o pessoal daí da cidade do sol, os 100 km do Frio, você pode fazer os 100 km nas modalidades solo, dupla (50 km para cada atleta) ou quarteto (25km para cada atleta). Esta ultramaratona foi criada em consequência de minha ida e de alguns amigos em 2010 para fazer a Comrades e aí nós nos atrevemos e criamos a Comrades aqui do Nordeste, então no próximo ano, na edição de 2018, conto com vocês corredores potiguares.
Fiz algumas maratonas internacionais, a primeira em 2007 em Nova York, em 2008 eu fiz Atenas, muito linda, mágica essa maratona, em 2011 eu fiz no Chile, em 2010 a Comrades, 2009 eu não corri fora, corri aqui dentro, 2012 a sonhada Paris, 2013 fiz Roma e Buenos Aires, 2014 eu fiz Berlim e me atrevi no domingo seguinte fiz a maratona de Lisboa. Em 2015, fui fazer a maratona da Geórgia, na cidade de Savanah, nos EUA, uma maratona muito bela, em 2016 eu não corri fora do Brasil. Já são contabilizadas onze maratonas fora do país.
MB – Qual foi a corrida mais difícil e a mais prazerosa?
Com relação a maratona mais difícil, a prova que marcou muito a minha vida e que eu consegui concluir, eu e alguns amigos, foi em Santa Catarina, que é o Desafio Praias & Trilhas, é uma prova muito, muito difícil, essa ultramaratona é feita em dois dias, você corre uma maratona no sábado e outra no domingo, então é uma prova dificílima, você faz ela só pelos costões, pela areia e eu conclui a prova, graças a Deus. Você conclui acabado, no domingo você tem que levantar todo quebradinho e buscar mais uma maratona e talvez pior do que a do dia anterior. Mas teve outra prova difícil foi a TTT no Rio Grande do Sul, Travessia Torre Tramandaí, 82 km de praia, muita água, muito vento e muita areia, foi marcante como o Desafio das Praias. Enfim, 64 maratonas e 32 ultramaratonas, 11 fora do país. Teve uma outra, que também foi muito marcante, todas são marcantes, foi a Ultramaratona 24h Fuzileiros Navais, foi meu recorde de quilometragens, corri 24h, comecei a correr às 9h da manhã até 9h do dia seguinte fiz 154 km e 400m, foi muito difícil também, terminei com 9 quilos a menos, fiquei desfigurado, lembro que quando cheguei em casa, minha mulher ficou assustada com minha fisionomia e disse que mais nunca faria essa prova, realmente concordo com ela.
Evidentemente que a maratona mais prazerosa foi justamente a de Paris, foi onde eu bati meu recorde em maratona 3h e 34m e não consegui baixar, mas pra mim foi motivo de alegria de ter atingido esse tempo, foi uma maratona linda, inesquecível, estava ao lado de vários amigos e da minha esposa que curtiu muito e por coincidência quando eu corri a maratona de Paris no dia 15 de abril de 2012 o meu aniversário foi na segunda, dia 16, cantaram os parabéns para mim.
- MB) Qual foi a motivação para participar da Maratona dos Baobás?
A participação da maratona dos Baobás surgiu de um convite de Haroldo, a princípio Haroldo falou de uma corrida de bike de revezamento e eu falei para ele:
“Nós os acorjeanos gostamos de correr os 42 km, sem a bike. Comprei a ideia, gosto muito de Natal, e Haroldo sabiamente conseguiu reverter a ideia inicial, abrindo espaço para a corrida de maratona, ficando definido as distância de 10 km, 21 km e 42 km, aí foi justamente a motivação que eu levei para o grupo, já que Haroldo nos deu essa confiança e com certeza a gente vai encantar essa cidade e levar aí uns 70 atletas e botar o “manto azul” e fazer uma “onda azul” e inundar a cidade de Natal até a cidade de Nísia Floresta, que são ligadas, juntando Parnamirim e outras cidades. Vamos correr com muito amor. É o que nos gostamos.
- MB) Qual percurso será sua participação?
A minha participação na Maratona dos Baobás será os 42 Km.
- MB) O que significa correr para você?
Correr pra mim é vida, correr pra mim é qualidade de vida e eu digo para as pessoas o seguinte: corre nas minhas veias sangue vermelho, mas um sangue misturado com corrida. Para mim a vida não tem sentido se a gente não tem uma atividade física, porque você mesmo percebe quando você vai ao médico fazer seus exames regulares e a primeira coisa que ele te pergunta se pratica alguma atividade física. Então atividade física é vida. Faço alguma atividade física e a nossa, a minha é o pedestrianismo. Eu corro em média 340 km por mês, descanso na segunda-feira, mas nos outros dias eu corro. Sendo assim, vamos ver as quilometragens mês a mês de 2017: Janeiro 361, Fevereiro 259, Março 342, Abril 363, Maio 403, Junho 371, Julho 351, Agosto 320, Setembro 378 e outubro 287, totalizando 3.429 km uma média de 342 km. Eu tenho metas, e as minhas metas são modesta parte ousadas. Eu tenho uma meta, que pude encaixar agora, durante os meus primeiros 10 anos de minha vida, botei na minha cabecinha que eu tinha que dar uma volta ao globo terrestre, uma volta à terra são 40 mil quilômetros. E graças a Deus me premiou e me fez em 10 anos eu correr 40 mil quilômetros e justamente em 2004 quando comecei a correr e 2014 quando completei 60 anos e em comemoração a isso eu dei 60 voltas no Parque da Jaqueira com vários amigos, o percurso da Jaqueira são 980m e aos 55 anos, para eu não esquecer, eu dei 55 voltas e a nossa missão agora é fazer mais 40 mil quilômetros até 2024 e em abril de 2019, quando completarei 65 anos, vamos comemorar as 100 Maratonas/Ultras dando 65 voltas ao lado de vários amigos, eu quero entregar a mim mesmo, aos 70 anos, fechando 80 mil quilômetros, duas voltas no planeta, aí o velhinho vai pendurar as chuteiras, será?
- MB) Uma mensagem?
A mensagem que eu deixo para vocês é que não desista nunca, a frase que mexe muito comigo: “desistir nunca”. Passo sempre que eu posso para o meu público que são as três palavras mágicas, os três Fs: Fé, Força e Foco. Se você tem fé você acredita em você, conseguindo superar tudo. A força você tem que saber o momento exato que você tem que levantar e ir à luta e o foco você tem que determinar algo que você quer, não adianta você está atirando em 3 ou 4 pássaros porque você não pega em nenhum. Para mim foi momento de alegria e tenho certeza que a gente vai encantar esse povo natalense no dia 03 de dezembro.

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15 de junho às 11:28
Neste domingo aconteceu a 1ª Corrida da Gente Nordestão