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Ignorar a doença não traz a cura
Texto roubado do blog de Sandro Fortunato – www.sandrofortunato.com.br
Ignorar a doença não traz a cura
Fotos e texto: Sandro Fortunato
janeiro 9, 2011 – 6:09 pm
Já falei muitas vezes do Maruim aqui no blog. Já fotografei por lá pelo menos meia dúzia de vezes nos dois últimos anos. Se você nunca viu nada, resumo: é uma comunidade de aproximadamente 250 pessoas encravada nas Rocas, um bairro portuário de Natal, capital do Rio Grande do Norte.
Não gosto de ir ao Maruim. Não gosto de saber que existe gente que vive naquelas condições. Não gosto de saber que, entra ano, sai ano, nada muda por lá. Minto! Mudou sim, desde minha visita anterior, há mais de um ano. Uns 10 casebres foram colocados abaixo. Eram de famílias que saíram de lá, realocadas pela prefeitura, que prometeu que todas as outras sairiam também, no máximo, até o Natal de 2009. “Nunca mais vieram aqui”, diz um morador, repetindo a ladainha comum. “Não se preocupe!”, retruquei, “No próximo ano, eles aparecem. Pedindo votos. Seja quem for, lembre-se disso: mais uma vez, eles vão prometer e não vão fazer.”
Não é culpa da atual administração. É sua culpa, AGORA. É sua culpa permitir que aquela situação de miséria CONTINUE. A vergonha existe há 30 anos, há nove administrações. Oito políticos passaram pela cadeira de prefeito e não resolveram esse problema. Três deles já governaram o estado; dois chegaram ao Senado; um é ministro, atualmente. O preço de apenas um dos carros de qualquer um deles compraria comida para toda a população do Maruim por um ano. Cada vez que um deles entra em um avião para ir a Brasília ou voltar de lá tira – do meu bolso e do seu – mais dinheiro do que uma família de lá consegue para sobreviver por um mês. Se dois dos senadores (lembrando: ex-governadores e ex-prefeitos que não resolveram nada), donos de várias empresas, de emissoras de rádio e tevê, ricos como empresários, abrissem mão de seu 13º, 14º e 15º salários em um ano (só isso, só os dois), tirariam 6 famílias de lá e as colocariam em casas simples, porém dignas. O mesmo dinheiro seria suficiente para eliminar o esgoto que corre a céu aberto, nas portas e muitas vezes dentro dos casebres.
Mas nada vai mudar. Quem quer mudar alguma coisa, vai lá e faz. Quem quer mudar ou garantir SUA PRÓPRIA SITUAÇÃO, pede voto. É para isso que existe pobre sem educação: para garantir a situação do rico esperto. Se todo mundo tiver educação e informação, quem vai votar em corrupto, safado e mentiroso? Sim, o sistema é foda. E funciona bem direitinho.
A nós, remediados da classe média, restam três opções: 1) mirar na classe abastada e entrar no esquema para fazer parte dela; 2) alienar-se, fingir que não está vendo e que isso não é problema nosso; ou 3) tirar a bunda da cadeira e unir forças para resolver o problema. Eu faço isso quando vou lá, fotografo e meto a boca no mundo mostrando como essa gente vive. Você faz o quê? E não estou falando só do Maruim de Natal, mas de qualquer favela de qualquer cidade. Não conheço qualquer bairro rico, em qualquer cidade brasileira, que não fique a 10 ou 15 minutos de carro de um Maruim. O que você está fazendo para mudar isso? Votando naquele escroto que lhe prometeu um cargo comissionado? Eu também gostaria de acreditar nas “boas intenções” dele. Acreditar nos outros é sempre mais fácil. A gente transfere a responsabilidade. Se algo der errado, a culpa não é nossa. Mole!
Todo ano, meu amigo, o fotógrafo Canindé Soares, faz o Natal das crianças do Maruim no dia 8 de janeiro, Dia do Fotógrafo. É lindo ver as crianças rindo ao ganhar bolas, bonecas e doces. Ele sabe que isso não é nada, não está resolvendo problema algum. É só uma festa. Ele faz isso para atrair os olhares de outras pessoas para aquela comunidade. Quem embarca na festa achando que é bonitinho ver as crianças sorrindo ou vai lá pela segurança que o momento proporciona para um safári na favela está no time dos que escolheram a opção de se alienar. A propósito, o Maruim não é um lugar perigoso. A maioria das famílias vive da pesca. Tem algum tráfico e, em uma visita ou outra, a gente esbarra em um jornalista, um advogado, um grã-fininho ou outro babaca qualquer que está ali comprando fumo ou pó. Depois ele põe a beca e se faz de bom moço, de não financiador da miséria e da violência, mostrando toda sua “consciência social”.
No Twitter, quando posto as belas paisagens de Natal, os RTs chovem, incluindo os dos perfis das secretarias municipais. Nessas fotos recentes, do Maruim, isso não aconteceu. A foto que abre este texto foi feita a uns cem metros daquele lindo pôr-do-sol do Canto do Mangue, que vivo fotografando. Grande parte da população só conhece mesmo por foto. Afinal, quem vai se arriscar a ir até “aquele lugar perigoso”, não? Respondo: quem não tem medo da realidade.
Falando em realidade, gostaria de demonstrar como somos capazes de modificá-la ou de só perceber uma pequena parte dela. Observe as duas fotos abaixo e depois retome a leitura.
Estes são Gleison, Lorenice e Késsia. Em janeiro de 2008, um deles me pediu: “Tira uma foto da gente?” Juntaram-se, fizeram pose, fiz o clique. Os olhares e os sorrisos são lindos. Késsia, a menorzinha, irmã de Gleison, tinha três anos naquela época. Ela tem um sorriso lindo, não? Crianças são crianças. Não tem jeito: podem viver na miséria, mas são lindas! Quando sorriem, iluminam tudo.
A segunda foto, foi feita exatamente dois anos depois, em 8 de janeiro de 2011. Gleison tem o mesmo rostinho. Lorenice, a maiorzinha, agora aos 7 anos, está ficando “com cara de mocinha”. Késsia está com os cabelos mais compridos e parece um pouco mais tímida. Todos devem ter reparado que eles parecem mais bem cuidados, mais arrumados. É normal nesses dias de festa. Todos fazemos isso. Eles também. Sabem que serão fotografados e, diferente de nós que entupimos nossos HDs com milhares de fotos, provavelmente serão as únicas que eles terão este ano. Mas a não ser que você seja médico, nutricionista ou um pai(mãe) muito atento(a), não deve ter reparado em um detalhe: eles quase não cresceram.
Tenho três filhos. Quase não reparo no crescimento deles. Como fotografo, consigo perceber como mudaram. Nessa faixa de idade, as mudanças são incríveis. Seis meses fazem uma diferença enorme. Dois anos transformam uma criança absurdamente. Quando são bem tratadas, bem cuidadas, bem alimentadas. Não conheço os filhos da prefeita, que foi minha colega de curso na universidade, mas tenho certeza que, assim como os meus, cresceram bastante e ganharam peso nos dois últimos anos. Ananda, que era um bebê pequeno e magrinho, prestes a fazer 11 anos, está quase da altura da avó (não que minha mãe seja alta; mas entenda: aos 11 ela vai atingir a altura adulta de duas gerações anteriores). Pietro, que era um bebê aos 3 anos, é um rapaz aos 5. Eu sou bem maior que meus pais. Todos nós temos e tivemos algo que, geração após geração, o povo do Maruim não tem: alimentação.
Este tipo de texto não costuma ter muitos comentários. Em relação a este e especificamente aos meus amigos de Natal, peço que, se puderem e quiserem, assumam aqui, nos comentários, o compromisso de ajudar essas crianças. Uma ida ao cinema com dois filhos, sem qualquer exagero de consumo (entradas, doces, lanche depois) gasta o equivalente a 4 cestas básicas. Uma por semana, durante um mês, para fazer uma família inteira comer bem melhor. Não quero que ninguém faça promessas ou dê um monte de coisas uma única vez. QUERO COMPROMISSO com aquilo que sabemos poder dar. Algum médico? Alguma nutricionista? Alguém que possa dar, todo mês, por um ano ou dois, uma ou duas cestas básicas a uma família? Parece assistencialismo? E é. Isso resolve? Vamos sustentá-los para sempre? Não. Isso vai ajudá-los a sobreviver, a se tornarem mais fortes e, mais adiante, caminharem com as próprias pernas. Pode ser que daqui a quinze anos, o Maruim continue existindo, mas algumas dessas crianças tenham se tornado adultos que possam tirar seus filhos de lá. Quem estiver comigo, PARA AGIR, fale agora.
E você, que mora em qualquer outra cidade, dê uma andada pela vizinhança. Tenho certeza que vai encontrar um Maruim por perto.

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