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22 de janeiro às 09:10

Infância roubada

A fotografia é de minha autoria, mas o texto robei do blog do amigo jornalista Sandro Fortunato.
Esta foto foi feita ontem quando fui a comunidade do Maruim fazer as fotos 3×4 das crianças, para matricula na escola. Foi um registro despretencioso. Quando passava por um beco da favela essa criança observava. Fiz o clique, mostrei para Sandro e olha ai o resultado.

Infância roubada

“Aqui não tem muita coisa não. Não, tem bastante. Não tem brinquedo, não tem diversão, não tem comida, não tem carinho, não tem saúde, não tem escola, não tem Papai Noel, não tem Obama. Não tem nem esperança porque desde cedo se aprende que é coisa que prolonga o sofrimento e isso a gente já tem de sobra. Aqui tem muito lixo, bicho doente, uma mosquitada que não acaba e o esgoto, que às vezes fica na rua, outras dentro de casa mesmo. São os nossos brinquedos. Parece que a gente já nasce com uma resistência para viver com os pés o dia todo nessa água podre e pra conviver com os maruins, que eu acho que nem picam a gente porque têm medo de pegar doença. Em dia de foto pra escola, tem banho tomado e até perfume. Em outros dias, tem gente que aparece cheio de máquina fotográfica para fazer safári. Tudo querendo ser Sebastião. Salgado é meu dia. Amargo até, mas sei abrir sorriso com uns dentes ainda bonitos. A gente daqui pede pra fotografar, pergunta quando vão mostrar e eles dizem que vão botar na rede pro mundo inteiro ver. Rede danada de grande é essa!? Que mundo todo? O mundo que eu conheço acaba ali no mangue e ele todo fede à peixe. Direito, a gente tem também não. Nem aqueles de um tal estatuto. Aqui está tudo é caindo. Parede, muro. Cor tem. Umas bem fortes, quando alguém consegue tinta. E aí parece que fica um pouco menos triste. Grade, portão, cadeado também tem. Dentro não tem muita coisa pra roubar, mas quando não se tem quase nada, é bom cuidar pra não levarem o resto. Aqui tem pai e mãe gritando e batendo por coisa nenhuma. Não é culpa deles não. Se eu fosse adulto e tivesse a vida deles, eu também não ia ter carinho pra dar. Castigo também tem. É não ir pra rua. É ficar em casa assustado, engaiolado, brechando quem passa pra ver se olham pra mim. Mas no mundo parece só ter olho fechado e que nem chega aqui. Os meus estão sempre abertos e não precisa botar tarja que eu não sou ladrão nem quero ser. É com eles que eu tento enxergar o futuro. Que futuro? Nem sei se vou ter um. Por mim, já ficava bem feliz se eu tivesse infância”.

Logo que acessei o blog de Sandro e vi minha foto com esse texto, nem li e imediatamente fiz um copy/paste. Sabia de cara que seria um texto que só valorizaria minha foto. Mas depois de postar e ler, vi que era muito mais que isso. Um texto que emociona que faz refletir e nos mostra como a gente reclama sem ter razão. Valeu Sandro!!!

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6 comentários em “Infância roubada

  1. Jarlene Rodrigues disse:

    parabéns pela matéria,ela nos faz pensar mais no próximo,e de como tem gente sofrendo nesse mundo.

  2. Nalva disse:

    Parabéns pela foto e pelo texto. Sem comentários.

  3. Ana Silva disse:

    Parabéns meninos, de “encher “os olhos e refletir….

  4. patricia disse:

    Pois é, realmente nós reclamamos tanto dos problemas dessa vida e tem tanta gente que não sabe nem o que é felicidade, e está ai vivendo,sonhando, meu deus que mundo é esse?. linda a foto, e mais interessante ainda é essa história fiquei muito emocionada!!!!!

  5. Cara que foto maravilhosa e que texto belo. Infância Roubada, não tenho palavras para falar da riqueza poética da perfeição que é a imagem com as frases. Pela foto, talvez nem precisa-se de palavras e pelas palavras, nem precisa-se de foto. Mas, as duas retrataram Nelson Rodrigues…A vida como ela é!

  6. DJ LEO disse:

    grande texto, grande foto.