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28 de fevereiro às 09:14

Roubaram a Paz de Natal

O cenário era a areia da praia de Ponta Negra em Natal, próximo ao cartão postal famoso do Morro do Careca. Naquele mesmo lugar, eu costumava jogar bola com minha turma de colegas do bairro e da Vila de Pescadores há mais de 20 anos. Foi lá que três ladrões roubaram a minha tranquilidade típica de um natalense bairrista, apaixonado pela “Terra de um Deus Mar que Vive Para o Sol”, como compôs o potiguar Pedrinho Mendes. Caminhava despreoculpadamente, entre o mar e as jangadas, em direção a um restaurante charmoso, localizado a beira da praia. Na companhia de uma amiga, fui supreendido pela ação dos bandidos. Em fração de segundos, um deles armado anunciou o assalto, com o apoio moral dos outros dois “pobres diabos”, provavelmente viciados em crack. Levaram nossos pertences básicos, como o dinheiro da carteira, documentos e celulares. Mas não foi apenas os tais bens materiais que os  covardes deliquentes subtraíram. Naquela noite enluarada, a minha paz de espírito foi roubada. Ora, quisera o destino que eu – praticamente um nativo criado em Ponta Negra – fosse vítima da onda de insegurança que assola Natal justamente na praia dos castelos de areia da minha infância. Antes do ocorrido, costumava me gabar diante dos meus parentes, que vivem a maioria em grandes cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Manaus, sobre as vantagens de se morar em uma cidade pacata e paradisíaca. Agora, além de silenciar sobre o nosso destino turístico para não me comprometer com a família de longe, me vejo com uma espécie de síndrome de pânico moderada. Sempre fui daqueles cidadãos cordiais com os que perambulam pelas ruas. Cultivava o hábito de quase sempre distribuir moedas no semáforo e até sopa para os que vagam pela noite, quando integrei um grupo de voluntários tempos atrás. Contudo, depois de ser “invadido em minha própria praia”, me transformei em um sujeito extremamente desconfiado, vigilante e paranóico com tudo que se passa ao meu redor. Um detalhe intrigante é que o assalto aconteceu há poucos metros das Câmeras de monitoramento, instaladas na orla pela Secretaria de Segurança Pública do RN. Já os policiais que atenderam a ocorrência, reclamam de uma velha escadaria, que permite acesso direto da praia para Vila, e que funciona como rota de fuga para os marginais. Sei que o meu caso é mais um entre tantos outros de violência urbana nas cidades brasileiras que crescem. Acho até não ser tanta a insegurança em nossa capital do Rio Grande do Norte. E se aqui não temos guerras,  nem ditadores que impõem tirania sobre as Leis e a Democracia, não devemos nos acovardar nem desistir da luta.

Eis que as injustiças sociais terão fim um dia quando as bem preparadas gerações do amanhã dominarão este mundo cruel em que vivemos. Só assim desaparecerão  os meninos de rua, que aliciados pela droga da morte, se transformam em bandidos perigosos e violentos. Eu, aliás, já estou curado da revolta. Irei com ladrões e tudo à Ponta Negra. Mas agora sem dinheiro no bolso, é claro!

Muriu de Paula Mesquita – Jornalista em Natal – RN

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