Depois de Recife, onde estreiou na Arte Plural Galeria, a exposição Verso/Reverso de Clicio Barroso entra novamente em cartaz no dia 5 de maio de 2010, na Pinacoteca de S. Bernardo do Campo, uma realização da Secretaria Municipal de Cultura.
Com curadoria original de Simonetta Persichetti, a exposição tem uma cronologia intencional na leitura, e basicamente trata da inaparente fragilidade escondida sob as camadas de rímel, corretivo e gloss que constroem a imagem da beleza contemporânea; é uma metáfora à desumanização promovida pela mídia, especificamente pela publicidade.
As meninas, seres delicados e de personalidades ainda mal formadas, passam a adolescência perdida entre calcinhas penduradas na sala dos minúsculos apartamentos que dividem com outras cinco ou seis, e a cruel rejeição dos inúmeros nãos a que são submetidas dia após dia, cotidiano insensível de quem as contrata. Sua máscara de altivez, segurança e eterna juventude se desmancha em minutos quando o acúmulo de medos, dores e desejos aparece, vencendo as camadas  de faz-de-conta, e a angústia surge vencedora.
No amplo espaço da Pinacoteca, sob a curadoria dedicada de João Delijaicov, as 20 obras estarão em paredes únicas, e haverá uma conversa com o autor logo na abertura da exposição.
A mostra conta com o apoio da Canson, da ArtPhoto e da HP.

Belo é feio / Feio é belo

Os conceitos de belo e feio sempre interessaram filósofos e artistas da sociedade ocidental.
Visto um em contraposição ao outro, até mesmo no âmbito moral, o belo e o feio permeiam nossos pensamentos. E aparecem agora, também aqui, nesta exposição de Clicio Barroso; “Verso/Reverso”.
Não são imagens artísticas, mas fotos que pertencem ao campo da mídia, da publicidade. Corpos que nos trazem algo muito caro à nossa época que é a possibilidade de “recriar” o próprio semblante. Máscaras que se apresentam da mesma forma tratadas para apresentar o belo e tratadas para nos apresentar o feio. Em discussão, um corpo mediático.
Já disse o professor Ernesto Boccara (da Unicamp), no prefácio do livro “O corpo como suporte da arte”, de Beatriz Ferreira Pires: “o corpo natural, em simbiose com os sistemas naturais, condicionado exclusivamente ou prioritariamente por ciclos biológicos, não existe mais como o conhecíamos. Tornou-se signo condicionado pela dinâmica das mídias, ou seja, tornou-se construção cultural”. Rostos que a mídia foi banalizando, esculpindo, criando, busca de uma singularidade que transformou tudo em igual. Rostos que, assim como Narciso, foram condenados ao amor impossível de ser alcançado visto que nos apaixonamos por imagens.
As fotografias aqui mostradas por Clicio nos remetem à beleza de consumo, como a definiu o semiólogo italiano Umberto Eco, em seu livro “História da Beleza”. Ideais de beleza propostos pelo consumo comercial. Banalização de um ideal. Não é novo este tema, visto que a bruxas criadas por Shakespeare em Macbeth já gritavam:
“Belo é feio, feio é belo”.

Simonetta Persichetti
Jornalista/crítica de fotografia

Mais informações e foto : www.clicio.com.br