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19 de janeiro às 18:40

Uma prosa sobre André da Rabeca

Foto: Sandro Fortunato
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Fotos: Canindé Soares
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Dona Nazaré,  esposa esposa de André e Jeane dona da lanchonete onde guarda até o momento a rabeca

Por Sandro Fortunato – www.sandrofortunato.com.br

Em 2000, comecei uma série sobre figuras populares de Natal (RN) para o site Natal na Íntegra. André da Rabeca estava nos primeiros nomes pautados e chegou a ser fotografado, mas a matéria não foi  concluída. No dia 6 de agosto de 2008, de volta à cidade, encontrei André no meio-fio em frente à Manchete Calçados, na esquina das ruas Coronel Cascudo e Princesa Isabel, na Cidade Alta. Saquei o “chaveirinho” do bolso e fiz algumas fotos. André não era de muita conversa, mas, encantado com a máquina, me perguntou quanto custava e comentou que poderia ganhar uns trocados a mais se tivesse uma, fotografando os casamentos nos quais, vez ou outra, era chamado para tocar.

Nascido no interior do Rio Grande do Norte em 27 de outubro de 1942. Segundo seu pai, André era mole e não dava para trabalhar na roça. No início dos anos 80, pegou a estrada para a capital e foi tocar rabeca nas ruas. As últimas notas de sua história como rabequeiro foram dadas em dezembro passado. A tuberculose se manifestou mais uma vez e seu estado de saúde piorou rápido. Como todo desvalido, fez sua peregrinação pelos postos e hospitais públicos: Posto de Saúde de Mãe Luíza (bairro onde morava), Hospital dos Pescadores (Rocas) e Walfredo Gurgel. Medicado e mandado para casa, sem o tratamento adequado, só parou no quarto, o Giselda Trigueiro, quando já era muito tarde. Deu entrada na segunda, 11 de janeiro, e faleceu na tarde do sábado seguinte, dia 16, às 16h05.

André morreu aos 67 anos, deixando Dona Nazaré, sua esposa, e cinco filhos. Destes, só Ivanilson, o mais novo e único nascido em Natal, morava com ele. Os três filhos homens estiveram no sepultamento no cemitério do Bom Pastor, no domingo, 17. As duas filhas, que moram em cidades do interior, nem sabem que o pai faleceu. Nenhum deles aprendeu a tocar rabeca. Nem os muitos netos. O instrumento, que nos últimos tempos ficava na lanchonete Fri-Shop (em frente à Manchete Calçados), continua guardado por Jeane Araújo, dona do local. Segundo Ivanilson, a rabeca será doada ao Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão.

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5 comentários em “Uma prosa sobre André da Rabeca

  1. JANIA SOUZA disse:

    Canindé, sua sensibilidade humana e artística é incomparável. Tocou-me profundamente a matéria sobre seu André da Rabeca. A SPVA/RN teve oportunidade de homenageá-lo em vida em seu sarau lítero musical Estação da Lira. Seu André da Rabeca representa a luta cultural do nosso povo simples que não consegue se fazer ouvir e sobrevive sempre no esquecimento da falta de memória embora seja, pela persistência, ícone inconteste da identidade potiguar.

  2. Joao Bryto disse:

    André é Patrimonio Histórico e Cultural da Cidade do Natal e merece ser nome de Praça ou de Rua para ser lembrado para sempre.
    Fez parte da minha infancia até os dias de hoje…
    Um Artista Popular da Nossa Cidade que não pode ser esquecido…

  3. Horacio Accioly disse:

    Conheci André em 1974, na Confeitaria Atheneu, já empunhando sua rabeca. Devido à sua deficiência, nunca foi além de uma música, interpretada em seu instrumento, quase sempre desafinado. Para sustento de sua família, desentupia fossas. Conta-se que em um desses serviços, desesperado pela sua condição de vida, tentou o suicídio atirando-se dentro de uma delas. Socorrido a tempo, voltou às ruas de Natal,sendo querido por todos quantos o conheceram. Não pedia nada. Apenas tocava, o queverá estar fazendo agora, junto e para os humildes e desvalidos que por essa terra passaram.
    André ficará na memória de todos os natalenses que frequentam bares e lanchonetes de nossa cidade. Que Deus o tenha em Paz

  4. Nina disse:

    O beco da Cel. Cascdo
    silenciou

    Tenho uma foto com ele, no meu fotolog,
    vou sentir falta dele