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Durante as próximas semanas, em período que se estende até 20 de janeiro de 2022, estarão disponíveis à visitação pública diversos quadros e instalações produzidas por Aluísio Azevedo Júnior. Verdadeira intervenção na ambiência da Manimbu, uma livraria de resistência e de afirmação cultural da cidade, localizada no Tirol, à Rua Açu, número 666-A.
Aluísio Azevedo, mais identificado no meio literário por suas criações ficcionais, seus ativismos, revela faceta inusitada. Se detém currículo e experiência no campo artístico, com intervenções pontuais, desde a cena local dos tradicionais eventos, até incursão na Bienal de Cerveira, Portugal, isso importa menos. O que prevalece em seu trabalho artístico é o olhar sensível com o qual percebe o mundo.
Ao todo, além de esculturas e instalações, são apresentados 30 quadros de uma pintura amadurecida, produzida com recursos e técnicas ousadas, organizada em coleções temáticas e narrativas.
A coleção “Olhar sobre o Futuro”, datada de 2012, emerge de pinceladas sugestivas, revelando olhares sobre horizontes imaginários. De característica expressionista e abstrata, traçados de espátula e pincéis largos, sempre delimitadas por retas cuidadosamente concebidas, esses quadros, decerto, desejavam libertar o artista de seus pendores cubistas, provisoriamente.
A série “Um Punhal Feito de Escuridão” remonta os ares de 2013, e a ficção-tema da qual o narrador se utilizou para explorar humanidades e sentimentos profundos. Uma viagem exploratória pelas trilhas da vingança e do perdão. São fotografias de uma ficção que entrega o personagem aos delírios e precipícios da vida, preso à caverna de seus transtornos, em tortura psicológica.
Espalhados pelos cantos, os trabalhos da série “Escapista” se situam fora das esteiras colecionadoras, com suas narrativas pontuais e desconexas, perpassando por fases intermediárias de produção.
O espírito explorador do observador-visitante, contudo, deve preparar-se para o salão principal da exposição. Ao adentrá-lo, ele se deparará com instalações de um lado e do outro. Ali, traços de cordões negros riscam as paredes. O pelourinho e suas argolas de lembranças se juntam às narrações pictóricas dos gritos desesperados, dos coriscos que não se rendem, de Marielles massacradas e Canarinhos farsantes. Imersão avassaladora em um lugar de indignações. Ao fundo, o pau de arara – vindo dos porões sombrios da ditadura brasileira – afoita-se aos nossos tempos, ressurgindo de suas ferrugens, para cumprir a liturgia dos torturadores. Cenas de um filme entrelaçado de fios que percorre cenários de nossa desumanidade, para aprisionar as mais inocentes vítimas.
Para os que se intrigam com o título da exposição, eis, então, o Lugar de Tatahari. Uma visão imagética e sensorial que faz referência ao universo real de gentes oprimidas e excluídas. Lugar de injustiça e de fome, material e assustador, aos olhares menos insensíveis. Lugar de indignação. Lugar nascedouro. Lugar de indignação-ventre capaz de germinar humanidades. Tatahari é ventre germinador. Favela, lixão, esquina, campo de concentração. Como se a miséria, numa perspectiva imagética, pudesse dialogar com a arte e com a esperança.
Como algo além do caráter estético, a arte de Aluísio Azevedo circunda as esferas da vida. Possui inegável função social, ao refletir a essência humana. Porque a arte existe para que a realidade não nos destrua. Identidades em resistência, realidades e clamores em revolução.
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1 comentário em “O LUGAR DE TATAHARI, exposição de artes plásticas, reabre o Espaço Cultural Livraria Manimbu, em grande estilo”

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24 de junho às 11:51
Extremoz celebra a cultura nordestina com o 1º Festival de Quadrilhas Juninas
Excelente exposição. Vale a pena conferir.